Bate papo com Mundo Freak

Casos de Sucesso 23 de Jan de 2019

Dias atrás fizemos mais uma daquelas boas conversas que temos com as iniciativas que estão aqui no APOIA.se. Dessa vez o papo foi com o Andrei, um dos responsáveis pelo Mundo Freak. Ele nos falou um pouco da trajetória do projeto e sobre como o financiamento coletivo no APOIA.se impactou a vida deles e a relação com o público.

O Mundo Freak está no APOIA.se desde outubro de 2016 e hoje tem uma comunidade de 659 apoiadores(as)!

Uma boa leitura! 😉

APOIA.se: Como vocês iniciaram e quando veio o estalo para ter um financiamento contínuo?

MundoFreak: Começamos em 2012, e desde ali foi muita caminhada, testando muita coisa. Eu, Ira e Rafaela ao meu lado, que estamos juntos desde o início. Foi só depois que vimos que tinha acontecido o fenômeno de crowdfunding. Eu sempre fui muito fanático por crowdfunding, por ver que ali tinha uma oportunidade muito interessante para as pessoas que estão no nosso nível, que não são grandes o suficientes pra conseguir fácil algum tipo de monetização, e que ao mesmo tempo consegue aproximar o público da gente. No caso, na época, o crowdfunding era aquele pontual, como outras plataformas e o KickStarter no exterior. Sempre fiquei muito de olho nisso. Então começou a proposta do financiamento mensal, o recorrente com o Patreon, só que o problema do Patreon para gente é o dólar. Não queríamos lançar algo que ou limitasse nosso público ou onde teríamos um grau limitado de negociação com a plataforma. E aí foi quando começou a surgir versões do Patreon aqui no Brasil, que fizemos uma pesquisa e achamos na época o APOIA.se, que trazia uma boa quantidade de benefícios – e foi daí a virada. Mas foi um início tímido. Já tínhamos uma experiência com crowdfunding pontual bem avassaladora, por exemplo, em 3 dias a gente batia a meta e coisas desse sentido. Eu estava esperando algo nesse sentido só que foi um pouco mais tímido, mas apesar de tímido, foi constante. O que permitiu para gente depois de um ou dois anos conseguirmos uma certa estabilidade e eu por exemplo, hoje eu foco só no site. E eu dentro do site, tenho orgulho de falar que trabalho só com isso. Porque disso pago toda a produção do Podcast e por aí vai.

APOIA.se: Qual foi o momento que vocês tomaram a decisão de ter um APOIA.se? O que tava passando no Mundo Freak? Precisavam de dinheiro? O que estava rolando no projeto para vocês tomarem uma decisão?

MundoFreak: Então, precisar de grana sempre estamos precisando, essa é a realidade de quem trabalha com criação de conteúdo, mas não era nem necessariamente por causa disso. Antes de qualquer coisa quero deixar claro que a nossa estratégia, foi de não fazermos nada em atitude desesperada porque que estávamos precisando de uma grana rápida. Isso é no crowdfunding em geral, em todos os tipos de modalidade, em qualquer plataforma, tudo tem que ser bem estudado e muito bem planejado. E foi o nosso caso, usamos a nossa expertise com experiências anteriores e mais do que nunca não subestimamos o nosso público. Não achamos que fosse um dinheiro que caía do céu e dado momento em que poderíamos conseguir de acesso fácil – não é essa a nossa lógica. Então o que pensamos e analisamos foram coisas de meses que fomos conversando, pensando e elaborando, “puxa, o que a gente poderia dar de exclusividade, que poderia fazer o brilho dos olhos brilhar com mais intensidade, com essa nova modalidade de escutar a gente, de ter mais produtos e coisas nesse sentido”. Então quando começamos, estávamos numa época de ascensão. Havíamos tido os nossos primeiros episódios patrocinados, estávamos realmente galgando umas coisas legais, uma certa relevância dentro da área do podcast. Começamos a sentir do público que estava na hora de tentar esse novo financiamento, então é algo que eu, por exemplo, comecei a pensar: “tá, vamos montar essa estratégia”. A primeira coisa que fizemos foi analisar o que já estava sendo feito e quais seriam as nossas concorrências, vamos colocar assim. Eu nem encaro muito como concorrência, porque muita gente já estava fazendo. Tanto que na época eu estava prestando uma consultoria pra um amigo que estava querendo fazer um podcast e já estava vidrado: “Pô, Andrei, vou iniciar meu podcast, o primeiro episódio vai ser daqui 1 mês. Eu já vou criar minha conta no APOIA.se.” Eu falei: “calma, e aí assim, não tem nenhum problema em relação a isso. Não tem nenhuma regra no APOIA.se que proíba uma pessoa de fazer a conta no primeiro episódio de podcast.” A ideia não foi essa, aí falei pra ele: “cara, tudo tem que ser preparado, porque senão, você se frustra. Porque você vai estar esperando algo que provavelmente não vai acontecer.” Para nós funcionou porque já tínhamos uma base instaurada, um público extremamente fiel, então já sabíamos o que queríamos atingir. Estudamos bastante, vimos o que estava sendo feito já, não apenas aqui no Brasil, lá fora, de outras áreas, o que que um quadrinista está oferecendo para o pessoal, o que um cara que é um vídeo maker está oferecendo para o pessoal? E aí obviamente fazer uma concorrência mais direta. Aí entra também não só a expertise e essa coisa de você estudar e planejar, nesse planejamento que precisamos entregar algo que para o nosso ouvinte é especial. Nesse diálogo que temos com eles que esse tipo de coisa conseguiu se formar de maneira efetiva.

APOIA.se: Dentro dessa trajetória que vocês têm, ja tinham feito outros crowdfunding, quais foram os desafios nesse caminho até estabilizar a recorrência?

MundoFreak: A questão foi primeiro convencer o público de que merecíamos uma ajuda deles, porque no final das contas, entendemos que o financiamento coletivo serve para a própria infraestrutura do site. Então, quanto a isso, as nossas possibilidades de retorno do próprio público são relativamente limitadas. Por exemplo, no pontual, você que tem aquela recompensa, você está ali tratando, mais ou menos, como se fosse uma compra e venda de um produto, né? Não é bem assim, mas muita gente pensa dessa forma. Aqui como estamos lidando com uma infraestrutura que mensalmente tem que estar acontecendo, então é pouca coisa que conseguimos fazer de diferente, e aí você vai conversar com o público. Como falamos bastante sobre casos insólitos e paranormalidade, brincamos bastante em relação a isso do halloween e etc. Lá fizemos a abertura do APOIA.se, mas foi apenas nos meses seguintes que esse começou a se tornar um método rentável e viável pra nós. E também quando o pessoal via que já tinha gente apoiando há bastante tempo, que nunca tinha acontecido nada de errado, que não tem problema de cartão e nem nada, então o pessoal começou a se sentir um pouco mais seguro e começou a – “ah, vou experimentar, né?” – e felizmente muito mais pessoas entram do que saem. Quando saem, ou seja por um arrependimento ou porque perdeu o emprego ou alguma coisa, felizmente ainda a gente consegue manter o nosso saldo positivo.

APOIA.se: De início, gostaria que você comentasse como foi o início do Mundo Freak, quais dificuldades estavam enfrentando e como vocês chegaram no APOIA.se.

MundoFreak: A grande dificuldade do Mundo Freak é a seguinte:em um site você tem várias formas de trabalhar com relação a monetização. Já no podcast você precisa de um certo nível de engajamento do seu público. Você precisa apresentar números que sejam saborosos para pessoas que irão fazer um possível anúncio ou ação nesse sentido. E podcast, principalmente aqui no Brasil, ele é um pouco mais complicado de ser trabalhado como os outros, porque além de ser uma mídia de nicho, ela não apresenta a mesma agilidade de retorno quanto um canal do youtube por exemplo. Porque além dos métodos para isso serem limitados, geralmente eles são mais trabalhosos, porque uma pessoa que está trabalhando numa agência de publicidade vai se tornar uma cliente e comprar um potencial anúncio no seu programa ele vai cobrar de você pela mesma forma que ele vê o view do Youtube, o download do Podcast. E para gente, não funciona muito assim, né? A gente tenta passar a ideia que o engajamento transforma o público específico em algo um pouco mais atrativo do que um IBOPE, um view de Youtube. Aqui a gente trabalha com um recorte então sempre houve essa problemática.

APOIA.se: E como é que você enxerga, lá do início da sua campanha, do início do Mundo Freak também, até vocês terem a campanha, e agora, como é esse relacionamento com sua comunidade?

MundoFreak: Nosso relacionamento é o melhor possível, porque agora conseguimos perceber o ouvinte que gosta tanto de nós a ponto de apoiar financeiramente. Isso permite trabalharmos uma série de ações que conseguem privilegiar não somente essa pessoa, como também nos preparou para outras formas de ver o nosso público mesmo ele não sendo apoiador. Isso foi legal para nós, porque a partir daí ao invés de, mesmo se tivéssemos um bom nível de patrocínios por mês, ainda assim inconstante, ia ter mês que entraria pouca coisa, outro mês que entraria mais, então o nível de segurança para fazermos ações mais duradouras era muito baixo. Com o APOIA.se conseguimos uma certa estabilidade, ficamos numa velocidade de cruzeiro. Por exemplo, estamos pensando em fazer certas alterações de valor ou de recompensas para o público. E pensar isso só foi possível porque conseguimos parar, focar no site e ver o que de melhor eu consigo oferecer para o público. Então agora, dois anos depois da campanha do APOIA.se eu consegui, pela primeira vez, lançar um conteúdo que é exclusivo pro apoiador e vai estar com uma periodicidade fixa, e isso graças a essa estabilidade que estamos conseguindo alcançar.

APOIA.se: Como é que você enxerga que o pessoal também está recebendo o financiamento contínuo, do Mundo Freak, o pessoal está curtindo? Apoio vocês e estou curtindo demais o trabalho?

MundoFreak: Então, no início tivemos bastante receio porque quando se fala de dinheiro, internet e Brasil, é sempre algo muito complicado, as pessoas estão sempre com o pé atrás. E lutamos também contra alguns pré-conceitos relacionados ao podcast que, como por exemplo uma baixa oferta de diversidade dentro dos programas – então acaba sendo extremamente raro ver um programa em podcast que seja pago. Então se tem uma oferta muito grande de coisa gratuita isso meio que já deixa o ouvinte “mal acostumado” porque no final das contas quando o podcast não é o seu produto, o seu produto é o ouvinte. No que se diz aí nessas questões de empreendedorismo, os anunciantes olham os números, e colocam o anúncio ali e o produto é a pessoa que está recebendo essa mensagem. Então pela primeira vez quando começamos o APOIA.se eu pensei que fosse acontecer uma resistência maior do tipo “puxa, agora eles estão se vendendo”, “puxa, pra que eu vou pagar se eu já tenho o conteúdo de graça?”, mas felizmente, graças ao nosso público que é de uma qualidade que é muito elevada, conseguimos fazer entender as nossas necessidades. Então, mesmo com esse início tímido no APOIA.se, as poucas pessoas que abraçaram, abraçaram com bastante força, inclusive tem pessoas que estão desde o início desses dois anos, ainda contribuindo com a gente. Obviamente trabalhamos com várias opções de valores. Essa galera não perdeu a confiança de dois anos pra cá.

APOIA.se: Como é que vocês interagiram com a comunidade? Como é que o financiamento contínuo proporcionou esses encontros mais aproximados?

MundoFreak: Então, conseguimos oferecer coisas melhores para o nosso público do APOIA.se. Geralmente tentamos trabalhar com um sentido de exclusividade. Não é que a pessoa necessariamente vai receber algo que só ela vai receber, mas ela geralmente ganha prioridade, ou uma certa exclusividade de acesso a um conteúdo que já existe. Semana passada estreamos um programa que é só pra essa galera, mas novamente estamos fazendo testes e isso graças a essa estabilidade. Mas geralmente a gente trabalha com ó: “você vai receber tudo o que você já recebia antes, como não pagante, só que aí você vai ter um acesso mais pra dentro dos bastidores. Então você consegue entrar naquela portinha ali que ninguém mais consegue entrar”. No caso, por exemplo, como gravamos em formato de áudio, gravamos agora com Hangout do Youtube, que permite ao nosso público assistir as gravações ao vivo. E isso para nós é um excelente diferencial porque ali a pessoa pode ir comentando e adicionando conteúdo enquanto ele está sendo feito. Isso é uma forma de que, beleza, se a pessoa não quiser apoiar, ela vai ter acesso aquele mesmo conteúdo, só que lá existe esse senso de exclusividade que vai atingir a pessoa e que vai fazer com que ela se sinta especial – o que é realmente muito interessante para nós. Então por exemplo, geralmente liberamos a pauta junto com os links de gravações, então a pessoa já pode ir dando uns pitacos antes de começarmos uma gravação. Essas pessoas recebem, caso oferecemos produtos por fora, algum cupom de desconto que é especial para elas, que consegue dar aí um descontinho, que é pouco, né, mas mesmo assim se sentem um pouco especial e coisas nesse sentido.

APOIA.se: E nesse período que vocês estão aqui no APOIA.se, quais foram os resultados, melhorias que vocês fizeram, o que vocês conseguiram adquirir nesses dois anos de APOIA.se com o financiamento contínuo?

MundoFreak: De início já conseguimos uma certa segurança, por exemplo, começamos a adquirir uma série de equipamentos e demos uma ajuda de custo para outros participantes. Hoje por exemplo, como tinha falado antes, eu estou focado só no podcast. Como eu consigo ficar 100% do tempo trabalhando no site, isso retroalimenta essa estabilidade e acho que mais do que isso, conseguimos pagar os servidores de maneira mais segura. Remodelamos o nosso site todo, pagamos ilustradores para fazer os banners do site, coisas nesse sentido. Pela primeira vez estamos conseguindo ter essa autonomia de conteúdo e não apenas depender de só pessoas que gosta muito da gente, mas de pessoas que gostam muito da gente e que hoje também estão recebendo o retorno. Isso também vai se enraizando entre mais pessoas. Quem dirá aí em um momento, se tudo der certo, eu consiga ter estabilidade suficiente para trazer ainda mais pessoas para dentro do site de modo viável.

APOIA.se: Finalizando aqui, o que você recomenda para as pessoas que querem começar uma campanha ou que já estão com uma campanha. Na sua experiência, o que deu certo, o que poderia ter sido feito melhor para poder compartilhar com a comunidade?

MundoFreak: A primeira dica que eu dou para pessoa que está começando é: primeiro planejamento. Não adianta, não vai cair dinheiro do céu, não é só colocar um linkzinho lá que vai começar a aparecer cartão de crédito sendo colocado. Não funciona dessa maneira.
A segunda é conhecer seu próprio público. Se você não conhece seu próprio público, primeiro você tem que se perguntar se você pode ter um público. Se pode ter um público, como é que ele é? Faz uma série de pesquisas, conversa com o pessoal. Chega para alguns e pergunta: “Pô, o que você acha se a gente fizesse isso, isso e isso?” Alguém de confiança mesmo, que gosta bastante do trabalho. Faz uma pesquisa e pergunta se as pessoas estariam interessadas em produtos de exclusividade mediante um pagamento recorrente e mais do que nunca, não subestime o público. Existem formas melhores de você trabalhar comércio. Mas se você vai pedir essa contribuição, não subestimar, ofereça algo que tenha um valor ao menos simbólico para pessoa, não precisa se necessariamente um valor comercial, um valor monetário, um valor simbólico que a pessoa. Se ela é tua fã, ela vai gostar muito daquilo. E mais do que tudo, cumprir as promessas, que isso é de extrema importância. Ser verdadeiro com seu próprio conteúdo com essas pessoas é o que deu mais certo para gente. E felizmente a recorrência consegue fazer com que a gente vá consertando essa moto enquanto está em cima dela. Então, o que não deu certo: o que não deu certo, troca por uma peça nova e continua aí porque não pode parar. É basicamente isso.

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