Síndrome da impostora e os desafios para valorização do próprio trabalho
Segundo o Instituto de Psicologia da USP a Síndrome da Impostora é uma desordem psicológica e apesar de não configurar uma doença mental pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é bastante estudada.
A síndrome afeta majoritariamente as mulheres, principalmente em cargos de poder, e se caracteriza por pensamentos que reforçam a falta de confiança e a sensação que as conquistas atingidas não foram merecidas.
A especialista Valerie Young categorizou 5 grupos de pessoas que sofrem com a síndrome:
1. A perfeccionista
Aquelas que buscam apenas(!) a perfeição. Não há espaço para erros, costumam criar expectativas irreais e nenhuma conquista é digna o suficiente de ser comemorada. Tem dificuldade em delegar tarefas, afinal o lema delas é "se você quer bem feito, faça você mesma" SPOILER: altos níveis de estresse, burnout, e queda da autoconfiança.
2. A super-heroína
Workaholic que acredita que tempo fora do trabalho é tempo perdido. Se esforçam para mostrar produtividade, tentando provar que são dignas do cargo, sempre em busca de validação que venha dos outros. Muitas vezes possuem dificuldade de medir por si mesmas os impactos de suas ações.
3. A gênia
Criam expectativas tão altas quanto as perfeccionistas, mas medem a própria competência com base na rapidez em que aprendem ou conseguem acertar de primeira. Quando não conseguem atingir esses objetivos se sentem envergonhadas e isso desestimula que elas sigam tentando.
4. A instrumentista
As que se recusam a pedir ajuda, já que o envolvimento dos outros pode apontar uma fraqueza.
5. A especialista
Se pautam "no que" e "no quanto" sabem sobre determinado assunto, constantemente receosas de serem expostas como inexperientes. Mesmo estando sempre atrás de aperfeiçoamento e mais informações, nunca é suficiente. Não saber de absolutamente tudo é considerado a revelação de que se é uma impostora.
O impacto psicológico do machismo
A síndrome dialoga com diversos preconceitos, mas está diretamente relacionada às ideias do patriarcado sobre a figura da mulher, estereótipo que segue sendo reforçado por meio do machismo estrutural existente na nossa sociedade.
O que se refere às mulheres é constantemente tido como inferior e menos importante, principalmente se ela estiver sendo comparada a um homem. Nesses casos, suas habilidades e competências são frequentemente questionadas.
A Síndrome da Impostora pode ser considerada um reflexo direto do impacto psicológico do machismo e da questão do estereótipo de gênero na sociedade, e essa questão explica também a dificuldade que experimentamos para divulgar nosso próprio trabalho, para mostrar para a sociedade que nosso trabalho tem valor, sim! Sem nos sentirmos uma farsa ao anunciar isso.
Mesmo que de maneira inconsciente todos escolhemos ou editamos o que queremos que os outros saibam sobre nós, a partir de convenções sociais pré-estabelecidas e definições do famoso “senso comum”. Essas convenções ditam como devemos aparentar ser bem sucedidas, felizes, bonitas, inteligentes e de preferência esconder tudo que for considerado errado, fracasso, incerteza e tristeza, além de tudo que possa manchar a nossa imagem de perfeição perante a sociedade (principalmente nas redes sociais).
A própria sociedade digital favorece a cultura do “quero ser outro(a) diferente de quem sou” facilitando, por meio da tecnologia, a criação de diversas personas em diferentes redes sociais (sem compromisso nenhum de retratar quem se é na vida longe das telas).
As pessoas se aproveitam desta facilidade para construir novas identidades e se passar por outras ou deixam aparecer partes de si que fora do ambiente virtual se manteriam escondidas.
Isto se soma às constantes comparações que fazemos entre nós mesmas (identidade real) e outros @'s (identidades ficcionais), que estão sempre ostentando felicidade, postando selfies bem produzidas, viajando e indo em festas, contribui para nosso sentimento de “eu não sou boa o suficiente”. Aquela velha história de que a grama do vizinho sempre parece mais verde.
Outras vozes
Diante destas barreiras e dificuldades específicas, impostas pela nossa realidade, surgem iniciativas para auxiliar a jornada de empoderamento e apoio no desenvolvimento do trabalho e valorização da potência feminina. Como a Associação de Mulheres Empoderadas do Monte Cristo - AMMO, que trabalha empoderando mulheres e meninas com capacitações e assistência social em Florianópolis/SC.
A iniciativa Poder da SAIA criou um movimento que visa orientar e apoiar as mulheres por meio de uma rede de fortalecimento da autonomia emocional e financeira.
Os podcasts Donas da P* Toda e Tá tudo bem Podcast falam respectivamente sobre empreendedorismo, carreira e comportamento, além de nos ajudar a ressignificar a forma como lidamos com o "sucesso".
Vale a pena seguir e apoiar estes projetos que promovem muitas trocas e aprendizagens importantes entre nós, mulheres. Eles também ajudam a nos situar sobre nosso papel na sociedade e as novas formas de modificar, aos poucos, essa estrutura tão mais opressiva para determinadas camadas da sociedade.
Referências - ESCANDELL MONTIEL, Daniel. Narrativizaciones del yo: los impostores y la construcción del personaje-yo deseado en la sociedad digital. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.7, n.15, p.71-102 maio/ago. 2015.PATROCÍNIO, Patricia. Síndrome da impostora, 19/05/2021. Retirado do Instituto de Psicologia da USP. Disponível em: <https://www.ip.usp.br/site/noticia/sindrome-da-impostora/>