Vulnerabilidade: a essência de um crowdfunding de sucesso

Quantas vezes você já desenhou um projeto e ele não foi executado? Quantas ideias você já engavetou sem ter a oportunidade de testá-las, na prática?

Em uma pesquisa recente que realizamos com Fazedores(as) da APOIA.se, descobrimos que uma das principais dificuldades em iniciar o crowdfunding era o medo de fracassar e a vergonha de pedir doações.

Acontece com você também?

A verdade é que demonstração da vulnerabilidade é um dos fatores essenciais para o sucesso do seu crowdfunding, por mais apavorante que pareça.

É através desse sentimento comum a todos nós, que vínculos de confiança são criados entre você e quem apoia o seu trabalho.

Mas, e se tudo der errado?

Vergonha é um sentimento comum, primitivo e quase sempre relacionado à exposição.

Com toda a exibição que a internet oferta fica impossível não se sentir intimidado(a) pela possibilidade de falhar, e pela divulgação pública do fracasso.

Um dos possíveis caminhos para vencer a vergonha é aceitar que ninguém está livre de fracassar.

Pensar no erro como uma oportunidade de aprendizado e ser mais generoso(a) com você mesmo deve ser um exercício diário.

A professora e pesquisadora na Universidade de Houston, Brené Brown (foto) estuda temas como a coragem, a vulnerabilidade, a vergonha e a empatia há mais de vinte anos.

Brené Brown - Autora do livro A Coragem de Ser Imperfeito

No livro A Coragem de Ser Imperfeito, a autora evidencia que a resiliência é um dos antídotos da vergonha e a melhor maneira de enfrentá-la é aceitando-a de peito aberto:

  • Todos sentimos vergonha.
  • Todos nós temos medo de falar sobre a vergonha.
  • Quanto menos nós falarmos sobre a vergonha, mais controle ela terá sobre nossas vidas.

Brené defende que não há como evitar a vergonha ou o medo, contudo devemos exercitar a autovalorização constantemente.

Conversar sobre em quais momentos você fica inseguro ou envergonhado é um passo corajoso e que também deve entrar no seu planejamento de para ter um crowdfunding de sucesso.

A pesquisadora ainda nos ensina que viver com ousadia está muito além da relação de perda e ganho.

Numa sociedade em que o acobertamento de nossas inseguranças é valorizado, evitamos a vulnerabilidade a todo custo, pois a associamos a sentimentos como a fraqueza, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepção.

Entretanto, compartilhar os seus sentimentos com seu público é um ato de coragem e o primeiro fator de sucesso para a sua campanha de crowdfunding:

“Quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade.” Brené Brown

A autovalorização nos dá condições de ficarmos vulneráveis.

É como se por meio dessa perspectiva ficássemos um pouco mais livres para errar, sentir medo, mas também perseverar e começar novamente, se necessário.

Estar vulnerável e aberto(a) passa pela reciprocidade e é uma parte importante do processo de construção da confiança

A gente sabe, parece assustador mostrar seu trabalho na internet e compartilhar sentimento com desconhecidos(as), né?

Mas é através dessa exposição que seus apoiadores(as) conseguem se conectar com você e com seu projeto.

E aqui tudo importa!

Compartilhar seus receios, sua história e sua trajetória é um convite expressivo para seus apoiadores. Além de explicar o quanto a renda é importante para você, dialogar com a comunidade sobre seu bem-estar extrapola a lógica de doação eventual.

A partir do momento que o público entende o seu trabalho e se conecta com os desafios que permeiam o projeto, ele não só apoia como ajuda a divulgar sua campanha e sustenta um relacionamento de longo prazo na comunidade apoiadora.

E se ninguém apoiar a minha campanha?

Começar uma campanha sem apoiadores(as) parece mesmo assustador.

A verdade é que todos os Fazedores(as) já passaram por esse momento para conquistarem o seu crowdfunding de sucesso.

Se você quer implantar uma cultura de criatividade e inovação, tenha em mente que a divulgação da sua ideia é apenas uma das ferramentas para formar a sua base de apoio.

O fato é que existem doadores(as) dispostos a apoiarem seu crowdfunding e para encontrá-los(as) você só precisa superar o medo de pedir.

Em entrevista aqui na APOIA.se, os(as) Fazedores(as) da campanha de jornalismo independente da plataforma, comentaram o receio que tinham no início da campanha sobre o alcance da divulgação.

A equipe, formada exclusivamente por jornalistas, tateava insegura nos conhecimentos de marketing para divulgar a iniciativa e desconfiava da eficácia que essa comunicação teria.

A surpresa é que os apoiadores(as) chegaram não apenas pela propaganda, mas pelo valor do projeto em si. Também pelas pautas relevantes e pelas recompensas criativas disponíveis como um curso de jornalismo independente oferecido como recompensa.

Embora a divulgação seja uma parte fundamental do seu crowdfunding, existem outras razões que fazem doadores(as) apoiarem a sua campanha:

  • Identificação com a causa
  • Confiança no seu intuito
  • Qualidade na apresentação da sua Campanha

Outro exemplo de Crowdfunding de sucesso aqui na APOIA.se é a Campanha História em Meia Hora.

O Fazedor publicou em suas redes sociais o desejo de viver apenas com a renda do Financiamento coletivo de seu Podcast.

Menos de um mês após compartilhar seu sonho a campanha já teve sua terceira meta alcançada.

“É preciso coragem para pedir e, mais do que isto, coragem para receber. É muito mais fácil dar algo a alguém do que aceitar o que o outro tem para nos dar.” Brené Brown

Você está pronto para aceitar o sucesso do seu crowdfunding?!

E se a minha ideia não for tão boa assim?

A cantora e compositora, Amanda Palmer (foto) é pioneira no Crowdfunding, arrecadou mais de 1 milhão de dólares para sua campanha em 2012.

Em seu livro A Arte de Pedir (foto), a artista indica sentimentos comuns na hora de pedir ajuda: a vergonha, o medo de parecer vulnerável e não ser merecedor(a). Esses podem ser os reais obstáculos por trás do seu medo de iniciar.

Livro A Arte de Pedir Amanda Palmer

É como se existisse um “pessimismo defensivo”.

Algum nível subconsciente dizendo que seu projeto não é tão bom assim, colocando você contra seus próprios planos.

Segundo a psicoterapeuta e pesquisadora sobre a síndrome do impostor, Kate Atkin, há algumas medidas que você pode tomar para lidar com o pensamento de não ser bom o suficiente:

  • Fale sobre isso: se você compartilhar seus sentimentos com outras pessoas, logo perceberá que não está sozinho.
  • Reconheça seus sucessos: não os atribua apenas à sorte ou ao trabalho árduo - sem suas habilidades e capacidade, você não teria alcançado o que fez.
  • Ninguém é perfeito: aceite que o fracasso provavelmente acontecerá em algum ponto e aprenda com ele, em vez de vê-lo como um reflexo de você mesmo.
  • Pare de se comparar com os outros: tente se comparar com o que você era no ano passado, em vez de ver como você progrediu.

Outro exercício é tentar ver o seu trabalho como se você fosse o seu público. Desvincular a sua imagem pessoal dos seus projetos evita que você prejudique a sua autoestima.

“Quando nossa autoestima não está em jogo, estamos muito mais dispostos a ser corajosos e a correr o risco de mostrar nossos dons e talentos.” - Brené Brown

Procure saber como as ideias de seu crowdfunding impactam a vida da comunidade, dedique um olhar respeitoso e afetivo pelos seus projetos. Apoie-se nos seus pontos fortes e comunique ao seu público onde estão seus principais desafios.

Se você for genuíno com seus objetivos e transparente com a comunidade, um relacionamento forte de apoio mútuo se consolida.

Franqueza e honestidade são as melhores aliadas que você pode ter para um crowdfunding de sucesso!

Que tal vencer esse medo e começar agora sua campanha?