Vulnerabilidade: a essência de um crowdfunding de sucesso

Cultura Crowd 19 de Abr de 2021

Quantas vezes você já desenhou um projeto e ele não foi executado? Quantas ideias você já engavetou sem ter a oportunidade de testá-las, na prática?  

Em uma pesquisa recente que realizamos com Fazedores(as) da APOIA.se, descobrimos que uma das principais dificuldades em iniciar o crowdfunding era o medo de fracassar e a vergonha de pedir doações.

Acontece com você também?

A verdade é que demonstração da vulnerabilidade é um dos fatores essenciais para o sucesso do seu crowdfunding, por mais apavorante que pareça.

É através desse sentimento comum a todos nós, que vínculos de confiança são criados entre você e quem apoia o seu trabalho.

Mas, e se tudo der errado?

Vergonha é um sentimento comum, primitivo e quase sempre relacionado à exposição.

Com toda a exibição que a internet oferta fica impossível não se sentir intimidado(a) pela possibilidade de falhar, e pela divulgação pública do fracasso.

Um dos possíveis caminhos para vencer a vergonha é aceitar que ninguém está livre de fracassar.

Pensar no erro como uma oportunidade de aprendizado e ser mais generoso(a) com você mesmo deve ser um exercício diário.

A professora e pesquisadora na Universidade de Houston, Brené Brown (foto) estuda temas como a coragem, a vulnerabilidade, a vergonha e a empatia há mais de vinte anos.

Brené Brown - Autora do livro A Coragem de Ser Imperfeito

No livro A Coragem de Ser Imperfeito, a autora evidencia que a resiliência é um dos antídotos da vergonha e a melhor maneira de enfrentá-la é aceitando-a de peito aberto:

  • Todos sentimos vergonha.
  • Todos nós temos medo de falar sobre a vergonha.
  • Quanto menos nós falarmos sobre a vergonha, mais controle ela terá sobre nossas vidas.

Brené defende que não há como evitar a vergonha ou o medo, contudo devemos exercitar a autovalorização constantemente.

Conversar sobre em quais momentos você fica inseguro ou envergonhado é um passo corajoso e que também deve entrar no seu planejamento de para ter um crowdfunding de sucesso.

A pesquisadora ainda nos ensina que viver com ousadia está muito além da relação de perda e ganho.

Numa sociedade em que o acobertamento de nossas inseguranças é valorizado, evitamos a vulnerabilidade a todo custo, pois a associamos a sentimentos como a fraqueza, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepção.

Entretanto, compartilhar os seus sentimentos com seu público é um ato de coragem e o primeiro fator de sucesso para a sua campanha de crowdfunding:

“Quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade.”  Brené Brown

A autovalorização nos dá condições de ficarmos vulneráveis.

É como se por meio dessa perspectiva ficássemos um pouco mais livres para errar, sentir medo, mas também perseverar e começar novamente, se necessário.

Estar vulnerável e aberto(a) passa pela reciprocidade e é uma parte importante do processo de construção da confiança

A gente sabe, parece assustador mostrar seu trabalho na internet e compartilhar sentimento com desconhecidos(as), né?

Mas é através dessa exposição que seus apoiadores(as) conseguem se conectar com você e com seu projeto.

E aqui tudo importa!

Compartilhar seus receios, sua história e sua trajetória é um convite expressivo para seus apoiadores. Além de explicar o quanto a renda é importante para você, dialogar com a comunidade sobre seu bem-estar extrapola a lógica de doação eventual.

A partir do momento que o público entende o seu trabalho e se conecta com os desafios que permeiam o projeto, ele não só apoia como ajuda a divulgar sua campanha e sustenta um relacionamento de longo prazo na comunidade apoiadora.

E se ninguém apoiar a minha campanha?

Começar uma campanha sem apoiadores(as) parece mesmo assustador.

A verdade é que todos os Fazedores(as) já passaram por esse momento para conquistarem o seu crowdfunding de sucesso.

Se você quer implantar uma cultura de criatividade e inovação, tenha em mente que a divulgação da sua ideia é apenas uma das ferramentas para formar a sua base de apoio.

Segundo a pesquisa Brasil Giving 2020, as doações via plataformas digitais tiveram um aumento significativo no último ano. Os resultados sugerem que as contribuições usando tecnologias digitais estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil.

O fato é  que existem doadores(as) dispostos a apoiarem seu crowdfunding e para encontrá-los(as) você só precisa superar o medo de pedir.

Em entrevista aqui na APOIA.se, os(as) Fazedores(as) da campanha de jornalismo independente da plataforma, comentaram o receio que tinham no início da campanha sobre o alcance da divulgação.

A equipe, formada exclusivamente por jornalistas, tateava insegura nos conhecimentos de marketing para divulgar a iniciativa e desconfiava da eficácia que essa comunicação teria.

A surpresa é que os apoiadores(as) chegaram não apenas pela propaganda, mas pelo valor do projeto em si. Também pelas pautas relevantes e pelas recompensas criativas disponíveis como um curso de jornalismo independente oferecido como recompensa.

Embora a divulgação seja uma parte fundamental do seu crowdfunding, existem outras razões que fazem doadores(as) apoiarem a sua campanha:

  • Identificação com a causa
  • Confiança no seu intuito
  • Qualidade na apresentação da sua Campanha

Outro exemplo de Crowdfunding de sucesso aqui na APOIA.se é a Campanha História em Meia Hora.

O Fazedor publicou em suas redes sociais o desejo de viver apenas com a renda do Financiamento coletivo de seu Podcast.

Menos de um mês após compartilhar seu sonho a campanha já teve sua terceira meta alcançada.

“É preciso coragem para pedir e, mais do que isto, coragem para receber. É muito mais fácil dar algo a alguém do que aceitar o que o outro tem para nos dar.”  Brené Brown

Você está pronto para aceitar o sucesso do seu crowdfunding?!

E se a minha ideia não for tão boa assim?

A cantora e compositora, Amanda Palmer (foto) é pioneira no Crowdfunding, arrecadou mais de 1 milhão de dólares para sua campanha em 2012.

Em seu livro A Arte de Pedir (foto), a artista indica sentimentos comuns na hora de pedir ajuda: a vergonha, o medo de parecer vulnerável e não ser merecedor(a). Esses podem ser os reais obstáculos por trás do seu medo de iniciar.

Livro A Arte de Pedir Amanda Palmer

É como se existisse um “pessimismo defensivo”.

Algum nível subconsciente dizendo que seu projeto não é tão bom assim, colocando você contra seus próprios planos.

Segundo a psicoterapeuta e pesquisadora sobre a síndrome do impostor, Kate Atkin, há algumas medidas que você pode tomar para lidar com o pensamento de não ser bom o suficiente:

  • Fale sobre isso: se você compartilhar seus sentimentos com outras pessoas, logo perceberá que não está sozinho.
  • Reconheça seus sucessos: não os atribua apenas à sorte ou ao trabalho árduo - sem suas habilidades e capacidade, você não teria alcançado o que fez.
  • Ninguém é perfeito: aceite que o fracasso provavelmente acontecerá em algum ponto e aprenda com ele, em vez de vê-lo como um reflexo de você mesmo.
  • Pare de se comparar com os outros: tente se comparar com o que você era no ano passado, em vez de ver como você progrediu.

Outro exercício é tentar ver o seu trabalho como se você fosse o seu público. Desvincular a sua imagem pessoal dos seus projetos evita que você prejudique a sua autoestima.

“Quando nossa autoestima não está em jogo, estamos muito mais dispostos a ser corajosos e a correr o risco de mostrar nossos dons e talentos.” - Brené Brown

Procure saber como as ideias de seu crowdfunding impactam a vida da comunidade, dedique um olhar respeitoso e afetivo pelos seus projetos. Apoie-se nos seus pontos fortes e comunique ao seu público onde estão seus principais desafios.

Se você for genuíno com seus objetivos e transparente com a comunidade, um relacionamento forte de apoio mútuo se consolida.

Franqueza e honestidade são as melhores aliadas que você pode ter para um crowdfunding de sucesso!

Que tal vencer esse medo e começar agora sua campanha?

Marcadores

Jackeline Moraes

Community/Experience Analyst na APOIA.se, Jornalista, Especialista em Filosofia da Religião, Licenciada em Letras e Educadora Social